domingo, 14 de dezembro de 2008

texto campo magnético

o ano de 1985 começou cheio de promessas boas, fim da ditadura, tancredo neves presidente, e o melhor, a população estava unida num consciente coletivo que emanava uma força muito positiva. quis participar desse momento de uma forma mais cotidiana, estar ali, participar com mais força desse todo. um jornal! a sessão de tirinhas do estado de minas era um bom lugar, já tinham 8, 9 desenhistas desenvolvendo as suas, e eu poderia realizar aquela vontade de fazer uma história em quadrinhos de longa duração, criar personagens, aprofundar, desenvolver um roteiro essas coisas. fiz umas cinco tirinhas seqüenciadas e levei-as ao geraldo magalhães, que era o editor do caderno de cultura do jornal, para ver se dava para publicar. com um sorriso ele me disse: "é uma honra". assim começou o campo magnético. nos 8 meses que se se guiram, o que aconteceu no e ao país é história, e o que aconteceu nas 84 tirinhas do campo magnético foi pura história em quadrinhos: charge, cartum, hq, novela gráfica em quatro capítulos semanais, tirinhas, arte seqüencial e tudo o mais ... isso junto numa forma que me absorveu por completo. este livro começou pouco depois, trazendo todo o roteiro formado cotidianamente, e dando um tratamento visual a algumas tirinhas que no jornal eram publicadas com 6X14 cms, e no livro atingem ate 17x4 cm. eu já havia editado uma revista em quadrinhos de minha autoria chamada "avivar sonorylandia", cujos fotolitos tinham sido feitos por zezim de deus usando um ampliador de fotografias, num processo bem rudimentar. mas agora ele trabalhava com uma repromaster , (ótima para fotolitos em p/b), na z5, agencia dos irmãos ziraldos e mais o dêbarry, que nos liberou a máquina desde que eu comprasse o material, que era importado, vinha por são paulo, custava uma grana, e também que o zezim só trabalhasse no livro fora do expediente. aí, todas as noites e tardes quando se encerrava o período normal de trabalho, começava 0 nosso, e víamos surgir dentro das luzes do laboratório, as imagens de todo 0 campo magnético em acetatos transparente. a Arte tem meios eficazes de mexer com a gente. neste livro, Ela me pegou novamente no momento em que eu estava com os fotolitos prontos e encaminhando para a impressão do livro, quando me veio a idéia de fazer 0 "campo magnético" colorido. para isso eu teria que desenhar os outros três fotolitos restantes para uma impressão a quatro cores. era um trabalho imenso, novo e desafiador. uma experiência gráfica!!! a todo momento, Ela coloca ingredientes que nos pegam com entusiasmo afinco e sensatez. pra se fazer manualmente um fotolito, usa-se uma mesa/caixa com o tampo de vidro, tendo dentro uma lâmpada. sobre essa mesa coloca-se uma folha de acetato transparente, onde com um nanquim ou reticulas gráficas adesivas são gravadas imagens, para depois serem impressas na cor correspondente. as quatro cores, preto, azul cyan, magenta e amarelo, mescladas sobre a superfície do papel branco, trazem todas as cores possíveis à tinta. fazer os filmes do campo magnético era um vôo cego, pois o desenho pra cada cor é feito em preto sobre o filme transparente imaginando a cor em que e1e vai ser impresso, e mesclando-a mentalmente com a próxima, e a anterior que também são desenhadas em preto sobre o acetato. assim ao final se tem quatro filmes para cada página, e pra cada um deles é gravada uma chapa, que ao colocar na máquina é impressa com a tinta da cor correspondente, revelando o trabalho policrômico visualizado apenas com a imaginação. após 25 páginas prontas, precisava tirar uma prova desse material, pra ver o resultado e prosseguir desenvolvendo o processo, pois ele sendo inédito necessitava dessa observação. eram muito caras essas provas para mim no momento e a vida me levou para outras situações e trabalhos. o campo magnético ficou acondicionado numa caixa por 20 anos, para agora através do fundo municipal de incentivo a cultura, ser finalizado. essa experiência me levou literalmente para dentro de uma gráfica, onde junto ao impressor marcelino ribeiro, imprimimos meticulosamente de uma forma não convencional por dias noites e madrugadas, numa solna 125, as filmogravuras do campo magnético. gilberto de abreu, dezembro de 2008

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